ESTUDO DO TEXTO: "HISTÓRIA DE UM OLHAR" DE ELIANE BRUM
Ao ler o texto de Eliane Brum, logo me deparei comigo mesmo há alguns anos atrás.
Com meus oito, nove anos de idade, cursando ainda o ensino fundamental, numa escola pública, estava eu, tentando entender o motivo de um menino gay, afeminado, com uma família super rígida com os costumes cristãos, sem entender as razões de eu ser diferente dos meus outros cinco irmãos.
Nessa época, conheci um menino, também chamado Lucas, que vinha de um estado bem distante do meu, ele vinha do Ceará, mais precisamente de Saboeiro. Com a mesma idade que a minha, com diferença de 10 dias, fazíamos aniversário no mesmo mês, Julho.
O Lucas chegou na minha sala e na hora pedi para que ele se sentasse ao meu lado. Ele sentou e desde esse dia eu soube que alguém ficaria ao meu lado quando os meninos maiores fossem tirar sarro de mim. E assim foi. Aquele menino, que veio de longe, me fez acreditar, até hoje, que juntos temos mais força para enfrentar a maldade que nos rodeia. A onda de ódio que vivemos hoje não é prematura, ela é antiga, só que hoje, vem com muito mais força.
Eu e o Lucas seguimos amigos até o ensino médio, na mesma escola, sempre unidos. Lembro que a gente combinava de que, se algum dia, algum de nós nos mudasse de cidade, o outro iria junto. Inocência de criança...
Eu sofria Bullying na escola. Eu, sempre afeminado e ninguém, nunca pode respeitar o que eu era. Meus colegas não sentavam ao meu lado. Menino pobre que sempre fui, muitas vezes não tinha roupas apropriadas para o inverno. Lembro de uma vez ter ido de chinelo para a escola, numa manhã bem fria de inverno. Minha professora me chamou num canto e perguntou se eu gostaria de receber dela algumas roupas para o frio, pois ela estava preocupada com a temperatura que fazia. Eu aceitei. Não tinha motivos para recusar.
Minha relação com a família sempre foi de exclusão. Até hoje me sinto excluído dos eventos com eles.
Parece pouco, mas é gigante para quem cresceu sozinho em lugares onde o ódio sempre foi escolha para os intolerantes.
Hoje namoro o Fernando. Moramos numa casa aconchegante, temos uma vida estável e não tenho muito mais relações com pai, mãe e irmãos. O medo que eu sentia da escola passou. O medo agora rodeia outras áreas, mas, com tudo o que passei anos atrás, hoje consigo, sozinho, lutar por uma vida com direitos e, principalmente, poder ser quem eu sou.
A escola não deve ser um lugar de repressão. A escola deve ser um lugar de aprendizado, acolhedor. Aprendizado constante e nós, futuros educadores, precisamos lutar para que o próximo menino diferente que encontrarmos por aí, possa ser livre para ser quem ele quiser ser.
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